Uma Santa Páscoa

Estou com uma unha encravada na narina direita e hemorragias internas na planta do pé da Kelly, uma rapariga inglesa que conheci no verão de noventa e quatro, em Torremolinos. Fico pior que um urso (isso mesmo, piurso) quando estas coisas me acontecem e cheio de vontade de roçar as costas da minha avó contra a ombreira da porta da sala. Como se fosse uma gata e dormisse em parapeitos. (Pausa) Pedia-vos agora que parassem de erotizar com pessoas de idade, sobretudo, pessoas da minha família. (Pausa) E que já faleceram. (Pausa) Podemos continuar? (Pausa) Ok, eu espero um bocadinho pelo senhor de Alcácer Quibir. (Pausa) Ai não vem? Assim sendo, gostaria de referir que nesta Páscoa o Coelhinho trouxe uma novidade: os subsídios de férias e de Natal só em princípio quem sabe deverão talvez e mesmo assim tendo em conta voltar a ser pagos aos portugueses (é bom concretizar, pois os portugueses poderiam pensar que era aos angolanos, uma vez que o governo passa mais tempo em Luanda do que em Lisboa). Da coelheira saiu ainda uma precisão fantasmagórica: o-pro-gra-ma-de-aus-te-ri-da-de-só-ter-mi-na-em-doi-s-mi-l-e-q-uin-ze-lo-go-os-su-b-sí-di-os-só-se-rão-re-pos-tos-ne-ss-a-l-tu-ra. (Pausa [até para aí dois mil e quinze]) E-p-or-fa-se-s! Ou seja, primeiro que toda a gente volte a receber o subsídio, já o ministro Gaspar acabou a última frase! Enfim, não posso dizer que a Páscoa esteja a correr propriamente bem! Para compor o ramalhete, ontem fui ao Leroy Merlin. (Pausa) Já isto, por si só, compunha, eu sei. Mas, infelizmente, há mais! (Pausa) Fui vestido de verde! Nos primeiros vinte metros tive de aconselhar as melhores bases para duche, a melhor relação preço-consumo energético para seca-toalhas e entre a melamina e o contraplacado marítimo, o que é que eu escolheria para a cozinha de um par de nubentes do mesmo sexo. (Pausa) F...-..! Resolvi sair e dirigi-me ao Ikea mais próximo. Entrei e ainda não consegui sair. Sinto-me o urso (lá está) que inicia um daqueles labirintos para chegar à colmeia das abelhas, na outra margem da página. Neste momento estou na secção de salas de jantar e mel nem cheirá-lo! Ou na secção de passatempos da revista "Cruzada". Já não sei bem. Sei que estou numa sala que não é minha, sentado, a ver numa televisão pessoas a enfiar sacos de papel na cabeça de gatos. Está tudo filmado: gatos andando com dificuldades, titubeantes, procurando livrar-se dos sacos. Deve ser o telejornal e aquilo é Guantanamo e as gargalhadas que ouço devem ser de soldados americanos que praticam as sevícias. Ou então é o gosto disto e as gargalhadas são as da Andreia Rodrigues e do César Mourão.

PS. Um título ronda-me o espírito, mantimentos para Paris. Quando isto acontece, vem tempestade.

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