O último a sair que feche a porta!

Ando com vários sketches na cabeça. Há pessoas que usam chapéu, eu uso isso. No primeiro, a coisa anda assim (o texto está escrito para ser apresentado ao vivo, mas pode ser feito em televisão sem necessidade de grandes modificações):

Cenário e enquadramento: O palco tem uma divisória paralela com uma porta a meio. Na cena, dois actores de comédia fazem, respectivamente, de ministro das finanças e primeiro-ministro. O sketch foi construído a pensar nos bonecos dos actores Manuel Marques (Vítor Gaspar) e Joaquim Monchique (Pedro Passos Coelho), no programa da RTP "Estado de Graça".

Cena I
(Vítor Gaspar e Pedro Passos Coelho atravessam a Porta, que tem a seguinte inscrição numa sinalética: "Portugal")


Pedro Passos Coelho (PPC) - Oh Vitó, ainda ficou aí alguém?
Vítor Gaspar (VG) - Pen-s-o hum qu-e n-ão, P-e-dri-nh-o!
PPC - Oh Vitó, "Pedrinho" não, que eu sou alto, garboso e pratico canto lírico. Já viste bem esta colocação de voz? (Ensaia a palavra "Portugueses") Queres mais? Muito bem: "Portugueses, estou em condições de assegurar-vos..." Enfim, poderia continuar horas nesta toada. (Faz vocalizes)
VG - S-im, t-en-s r-a-zão hum. (Faz um gesto em direcção à porta) F-e-ch-o?
PPC - Tens a certeza que já saiu toda a gente? É que se ficou alguém para trás depois fica preso lá dentro e não há volta a dar!
VG - (Olha para a inscrição na porta que diz "Porugal") M-a-s i-s-to é m-e-s-mo p-a-r-a f-e-ch-ar? T-e-ns hum a c-er-te-za?
PPC - (Coloca um ar grave. Faz dois ou três vocalizes. Apercebe-se que o outro o olha com espanto e que aguarda uma resposta) Bem, eu tentei vendê-lo mas ninguém quis comprar! (Pausa) Tentei dá-lo, mas mesmo assim ninguém o quis... Limpei daqui os autóctones que cheiram um bocadinho mal debaixo dos braços e não fazem depilação completa... (Pausa) Toda a gente sabe que os pêlos guardam os cheiros e se era para vender, ou mesmo para dar, eu tinha que mudar a imagem do país...
VG - F-e-ch-o hum? É q-ue d-e-po-is...
PPC - Confirma senão ficou ninguém lá dentro!
VG - (Tentando falar alto) E-S-TÁ HUM A-Í A-L-G-UÉM? HUM. (Virando-se para o outro) P-a-re-ce qu-e n-ão... (Encolhe os ombros)
PPC - Bem, então fecha. (Quando Gaspar faz o gesto de fechar é interrompido) Mas antes, devo dizer algumas palavras aos portugueses. (Faz vocalizes, dirige-se para o limiar da porta e, de costas para o plateia/câmara, começa a discursar) Endereço-me a vós, neste momento de enorme dificuldade, para vos dizer que tudo fiz para que o desfecho fosse outro que não este.
VG - M-as Pe-d-ro, j-á hum n-ão r-es-ta nin-guém!
PPC - Tens razão. (Faz dois ou três vocalizes. Recomeça, dirigindo-se agora ao país. O som vai baixando à medida que fala, deixando de se ouvir. Mal o discurso acaba, o ministro das finanças fecha a porta devagar, como se falasse...) Portugal, neste momento de enorme pesar para todos [...] Obrigado!
VG - B-em, p-a-ra on-d-e v-a-mos ag-o-hum-ra?
PPC - (Olha em volta) Espanha também já fechou, ao que parece...
VG - Eu gosto muito da Baía de Luanda...
(Fim de cena)


 

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