Levo o meu Fariseu para todo o lado!

Cenário e contexto: este é mais um Sketch cuja ideia é desdobrar em diferentes momentos/situações a exibir intercaladamente ao longo de um episódio (ou ao longo de diferentes episódios). Será um daqueles para “unir” um episódio, para definir as suas costuras e ajudar a criar a ideia de um todo auto-suficiente. A ideia é evidentemente jogar com a figura “bíblica” do fariseu, doutor de leis, cuja principal característica é cumprir escrupulosamente a lei judaica (“a Tora”). Em cada situação (desdobramento) um dos personagens andará com um fariseu debaixo do braço (literalmente), ao qual recorrerá sempre que tenha de resolver alguma questão legal, moral, religiosa. O fariseu será transportado da mesma maneira que um francês transporta a baguette, com a mesma naturalidade, não devendo nunca parecer um elemento estranho (ou pesado ao personagem que o transporta). Bom, se isto for difícil de pôr em prática, o fariseu deverá andar preso por uma trela. As situações deverão ser actuais, havendo um desajustamento entre os mantos originais dos fariseus, há mais de vinte séculos atrás, o cabelo comprido e as longas barbas (o livro sempre na mão…) e os restantes personagens. O objectivo: satirizar o excesso de legalismo no dia-a-dia das pessoas. Parodiar ainda aqueles que acenam com a lei como se levantassem um bastão...

Estou, neste momento, a desenvolver diferentes situações. Estou a trabalhar na sequência seguinte, ainda por acabar.
Situação 1 – Numa rua da cidade, dois homens caminham em sentidos opostos. Quando se cruzam, batem ombro com ombro. Um deles leva o fariseu debaixo do braço (ou pela trela). Começam a discutir.
Homem que leva o fariseu para todo o lado – Veja lá por onde anda. O passeio é de todos! (Pousa o fariseu no chão. Sacode-o como se o preparasse para algo. Tira-lhe ciscos da boca!).
Homem comum – (Humilde, atitude de quem não quer confusões) Peço desculpa se o magoei. Não me apercebi, quando dei conta já havíamos chocado!
Homem que leva o fariseu para todo o lado – (Olhando o fariseu que adopta um ar profundamente reprovador) Vê-se logo que é do tipo de gente sem qualquer escrúpulo!
Homem comum – (Evitando discussões) Bom… Julgo que, depois de ter apresentado as minhas desculpas, não haverá muito mais a fazer.
Homem que leva o fariseu para todo o lado – (Virando-se para o fariseu) “Não haverá muito mais a fazer”! … Fique o senhor sabendo que isto ainda agora começou! Há pelo menos 40 procedimentos legais contra o facto pelo senhor acabado de praticar!
Fariseu – (Interrompendo o seu dono, esclarecendo) Cinquenta, cinquenta procedimentos previstos na lei! (Pausa) Código da estrada, enquadrado pelo Decreto-Lei nº 44/2005, de 23 de Fevereiro.
Homem que leva o fariseu para todo o lado – (Virando-se para o homem comum) Cinquenta, cinquenta procedimentos! Ouviu bem? Cinquenta! (Surpreendido ele próprio com um tão elevado número de procedimentos, vira-se discretamente para o seu fariseu:) Cinquenta? (O fariseu abana afirmativamente a cabeça, levantando o livro que tem na mão e mostrando-o ao seu dono)
Homem comum – (Impacientando-se) “Facto pelo senhor acabado de praticar”? Caro senhor, eu vinha a andar pelo passeio e inadvertidamente choquei consigo! Não é propriamente a mesma coisa que o atacar à catanada!
Fariseu – (Virando-se para o homem comum) Ah, “ameaça à integridade física simples”, segundo o Código do Processo Penal… A integridade física do meu dono é um bem jurídico, caro senhor!

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