Às compras

Andar num supermercado é hoje em dia uma tarefa para corredores de meio fundo etíopes (sem desprimor pelos corredores de meio fundo quenianos e somalis), sobretudo, porque temos a sensação de entrar numa máquina de flippers e de sermos a bola. No fim-de-semana passado fui a uma grande superfície, da qual não vou dizer o nome, mas que é uma daquelas empresas modelo e fica no continente europeu. Há, desde logo, uma coisa que me mete muita, muita impressão: um homem “todo sorrisinhos para cima de mim”, mesmo que seja numa fotografia, e mantenha uma distância de segurança. Não gosto, é um preconceito meu, chamem-me esquisito, mas prefiro a Marta do OK Teleseguros, por exemplo. Chamem-me homofóbico, hemofílico ou hematoma, não quero saber, quero é paz no momento de escolher entre o arroz carolino ou agulha. A Marta inspira-me mais confiança, é só isso. O homem até pode ser uma pessoa excelente, escutem, o cartão que ele tem na mão até pode não ser um daqueles que abre portas de quarto de hotel, mas eu ainda assim, a escolher, prefiro a Marta, que… (Pausa) para mais é educada e liga sempre antes de aparecer! Um indivíduo com bom aspecto, a acenar com um cartão, parece-me assédio no local de compras. E eu prefiro ser assediado no local de trabalho. Se tiver de ser no supermercado, prefiro sê-lo pelas meninas da caixa. Por natureza, não sou queixinhas, mas tenham cuidado com este homem. Não me inspira nada de bom... Tenham cuidado, é só o que vos digo! Outra coisa que me incomoda sobremaneira é ser emboscado por senhoras voluptuosas que saltam de trás de pequenos quiosques, com ar inofensivo, instalados nas esquinas dos corredores. Pensando melhor, não tenho nada contra isto. Estas senhoras, com bom ar e vestidas de avental da marca de queijo que estão a promover, têm por objectivo na vida enfiar-nos palitos de camembert pelas goelas abaixo e inquirirem-nos se gostamos. Se por um lado a vida nos pode reservar voos profissionais mais excitantes, por outro há coisas muito piores do que vender víveres espetados em palitos nas esquinas dos supermercados. Assim de repente, consigo lembrar-me pelo menos de uma, mas sem pensar muito. Depois de fazer as compras, segui para a caixa e paguei. Sou um homem honesto e pago sempre tudo. Deve ter sido por isso – e pelo facto de ser extraordinariamente bonito – que a menina da caixa me deu junto com o talão das compras um talão de desconto para gasóleo. Quando me apresto para sair das instalações do supermercado, sou mandado parar em mais uma operação stop. Desta feita, meninas sensuais ligadas à EDP queriam trocar 10 porcento do que gastei nas compras por electricidade. Eu achei aquilo um malabarismo difícil de fazer, disse-lhes que não percebia nada de positivos e negativos, e que até tinha medo disso, porque já não era a primeira vez que apanhava choques com a factura da luz, e aquilo nem fios tem! Depois uma delas perguntou-me se eu era bi-horário ou tarifário normal… Eu disse logo que não, que era hetero, mais normal do que eu era impossível, e que não tinha nada a ver com o tipo do cartaz. Foi aí que ela me disse: “ – Então, senão é bi, preencha este papel”! Eu preenchi e assinei logo em como não era bi. Ela também assinou (parecia que nos estávamos a casar) e pôs lá o n.º de telefone dela. Disse que a partir daquele dia era minha agente e eu fiquei contente pois não sabia que a EDP agenciava humoristas em início de carreira. Ainda falam mal deles… Antes de chegar ao carro, ainda fui abordado por um senhor de uma agência de viagens que há logo à saída das caixas, entre a parafarmácia e a florista. Perguntou-me se já tinha para onde ir nas férias e eu Oouuu! Alto lá! Disse-lhe logo que me tinha acabado de casar com o avião da EDP, que de mim não levava nada e que perguntasse ao tipo do cartaz, que tinha ar de ser menino para ir de férias com um gajo que não conhecia de lado nenhum.


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