Apontamentos sobre a crise para stand-up

O que me chateia na crise é o desespero das pessoas. Não porque fique com pena das pessoas, mas porque o pesadelo é pouco estético! Uma pessoa desesperada é uma pessoa feia e sem modos, que grita, se descabela e baba... Enfim, o que se pode desejar nestas alturas é que a crise passe rápido, que eu não estou para estas cenas. Paguem lá as contas e penteiem-se se fazem o favor. (Pausa) Uma pessoa sai à rua e é sinais de desespero por todo o lado. Ainda há bocado, antes de vir para aqui, passei por uma loja que dizia: "Vendo ou Alugo"... Na realidade, o que lá estava escrito era: "Vendo ou Alugo ou Outra merda qualquer"! (Pausa) Antes da crise os proprietários era mais selectivos: ou vendiam, ou alugavam. Normalmente, aquele que queria vender não queria alugar e o que queria alugar nem pensar em vender. As pessoas tinham critérios antes da crise... Outra coisa que me chateia imenso em alturas de crise é que não se fala doutra coisa, mesmo quando a situação não se dá, e tudo tem como razão ou justificação a crise! No outro dia fui à piscina... Cheguei lá e tal, mergulhinho e quando venho à superfície para respirar aparece-me uma cota de touquinha bordeau a dizer: "Está fria... É a crise". Eu ainda tentei dizer que a água estava pelo menos a 25º, mas ela disse-me que eu era novo e tinha sangue na guelra. Eu ainda lhe tentei explicar que não tenho guelras, mas ela respondeu: "Isso é o que você pensa!...". Arrumou comigo, acabei a dizer que isto estava mau e a continuar assim que eu não sabia onde isto ia acabar... Dei mais um mergulho e quando regressei à tona... o Martins, que andou comigo no liceu e que costumo encontrar na piscina, precisamente... Conversa vai, conversa vem, e o gajo diz-me: "Isto está mesmo vazio! Vem cada vez menos malta à piscina... É a crise, meu, é a crise!". Eu ainda lhe disse: Oh Martins, se calhar tem  a ver com o facto de serem sete da manhã e este horário não ser muito concorrido... Ele disse: "Não é nada, é a crise!", e eu disse sim, sim, é a crise, que isto está mesmo mau... No domingo passado, fui dar um passeio pela baixa com a minha mãe. Eram oito da noite e ela disse: "Filho, já viste que não há gente na rua! As lojas e os restaurantes estão às moscas...". Eu ainda lhe disse que Portugal jogava o seu futuro no Euro e que era normal não haver ninguém na rua, além disso era domingo, era normal que as lojas estivessem fechadas ao domingo à noite... Ela disse que não era nada, que era a crise, e que se Portugal jogava o futuro no Euro mais uma razão para as lojas estarem abertas e o comércio a facturar! Desarmou-me e eu acabei por ceder... (Pausa) O que é certo é que já não há muita pachorra... E depois a crise gera uma certa esquizofrenia nas pessoas: por um lado a crise é má, por outra ando sempre a deparar-me com pessoas que dizem que "é uma oportunidade", que é "em tempos de crise que surgem as grandes ideias" e que se "fazem os grandes negócios". Ninguém faz puto-ideia como é que isso se faz ou acontece, só se sabe que é nestas alturas que estas coisas acontecem... Depois, ou bem que a crise é uma coisa má, ou bem que não... O que é verdade é que nunca vi tanta gente à bica para entrar no carrossel: foi a Islândia, a Irlanda, a Grécia e Portugal. O Chipre, que não pode ver a Grécia a fazer alguma coisa que vai logo atrás, também já vai em cima do cavalinho... Agora é a Espanha e a Itália que estão desertinhas de entrar... E acho que a França e a Inglaterra vão dar, respectivamente, uma mãozinha...

(Texto incompleto)

Comentários

  1. Hello miúdo, genial, como sempre... estou contigo, já não consigo ouvir falar da crise... apre, não haverá outros assuntos? Sexo, que tal? Talvez fossem/andassem mais felizes, digo eu... Quanto a ti, força aí, continua que o caminho é em frente... beijinhos

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    1. A crise vem do grego Krisis e significa qualquer coisa que agora não me lembro. Só podia vir do grego, diriam os alemães. Para mim, mudamos já de assunto também. Mas é tema actual para stand-up, apesar de batidinho, reconheço. Bj e as melhoras... Precisamos da nossa defensora das causas justas em forma.

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