Vozes a mais...
Pois eu, meu caro Paul Auster, ainda bloqueio à frente da
página em branco!
É o pânico total.
Aos 40 seria de esperar mais.
Ou melhor, menos e começar assim a história em andamento [pelo
meio, mesmo], pegando-a pelo ponto de vista do alfinete, nem sequer é uma
homenagem a Machado de Assis.
Até porque os alfinetes são objectos anacrónicos nos dias de
hoje, o que não acontecia ao tempo de Assis.
O parágrafo anterior é parvo porque escolher um alfinete
para narrador participante de uma história seria tão ridículo hoje como no
tempo de Machado de Assis ou de São Francisco de Assis.
Escrever sem assunto dá nisto de nos metermos nos assuntos
dos outros, de usarmos os seus recursos estilísticos como se fossem recursos
naturais.
Por falar em recursos naturais, sinto-me a merda que andou a
passear pelos cus de Sartre e Céline.
[Até a merda em que estou metido pertence a outros.]
E posso assegurar-vos de que não se trata de um passeio de
domingo à tarde pelo parque, descortinando senhoras debaixo de chapéus de aba
larga e sombrinhas com bordados.
Dentro de mim tenho uma voz que diz:
Sê criativo!
Tira um curso de ser criativo!
Estás à espera do quê, vai, anda!
Felizmente, dentro de mim tenho outra voz que diz:
NÃAAooo!
E uma terceira que diz:
Não é bom ouvir vozes…
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