Cavaco Silva, o eufemista súbito!
Não se trata de acometer os reformados de "frustração súbita", mas de "morte súbita" que o senhor presidente, que também é um pensionista em dificuldades como já fez saber ao país, está a escamotear com um "eufemismo súbito".
O país acorda todos os dias com a boca seca, o corpo dormente e ovos a estrelar no fígado e, enquanto isso, o Presidente da República anda numa azáfama de cartas para o Tribunal Constitucional a pedir prendas para o sapatinho dos portugueses. Deve ser por estar imbuído do espírito das iluminações de Natal que já mijam de luz o país - ou então é porque ainda acredita mesmo que o Tribunal Constitucional existe - que Cavaco Silva mandou um postalinho ao TC a dizer que se opõe ao "regime sacrificial" (amém) da convergência de pensões e que teme que esta "convergência" (ou como se diz em pensionês, "agarra que é ladrão") seja causadora de "frustração súbita" nos pensionistas. Eu não sei como é que hei-de dizer isto ao senhor presidente sem o magoar, e por isso vou dizê-lo à César das Neves, deixem-me só pegar na caixa de fósforos de acender fogueiras de queimar pessoas portuguesas que ganham o salário mínimo e têm a lata de se fazerem passar por pobres... Ora cá vai: não se trata de acometer os reformados de "frustração súbita", mas de "morte súbita" que o senhor presidente, que também é um pensionista em dificuldades como já fez saber ao país, está a escamotear com um "eufemismo súbito". Já sabíamos que o senhor presidente fazia comunicações ao país súbitas, agora não o sabíamos capaz da fina arte das matáforas (assim mesmo com á) e dos recursos estilísticos. Senhor Presidente, de todos os César das Neves que andam por aí eu prefiro o original, porque ao menos sei o que ele pensa, e tento defender-me... Já consigo controlar o vómito e conta-se pelos dedos das mãos os ataques de fúria sempre que alguém me diz as coisas que ele escreve. E repare que nem sequer tenho nada, mas nada, contra o Neves, a não ser o facto de ele teimar em pesar os portugueses na balança comercial, dormir com uma fotografia do Fernando Ulrich em cima da mesinha-de-cabeceira que fica do lado direito da cama, e nem sequer ter mesinha-de-cabeceira do lado esquerdo. O facto de o Neves estar sempre a dormir para o mesmo lado chateia-me, mas como é para o outro lado, não incomoda assim por aí além. Agora, que o senhor presidente cometa a desfaçatez de dormir virado para os portugueses, isso a mim, enquanto português, já me chateia um bocadinho. O que eu gostava de ver era um "presidente súbito", quer fosse cá por convergências, quer fosse cá por conveniências, quer fosse cá por coisas.
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