"Puta vida, merda cagalhões", ou Da certeza

Ontem, Assunção Esteves citou Simone de Beauvoire; hoje, Paulo Portas citou Sá Carneiro; logo à noite, no final da emissão da Sic Notícias, o mais tardar amanhã de manhã, eu gostaria de citar Nel Monteiro: "Por não ter condições de vida / E ver sinais de mal a pior / Desculpem a minha linguagem / Mas não consigo ter outra melhor / Ai é duro ser pobre / E mais duro é com certeza / Um pobre ser toda a vida / A lixeira da nobreza". Mas é no refrão que o texto de Nel Monteiro atinge o ponto nevrálgico da crise em que vivemos: "Puta vida, merda cagalhões / Porque será que tem de ser assim / Desigualdade sem ter fim". Eu sei o que é que o Jerónimo de Sousa está a pensar neste momento sobre a poética de Nel: " - Tiraste-me as palavras da boca, homem!", naquele jeito de Marlon Brando que Marx lhe deu. Agora, se no caso de Assunção Esteves, esta ficou a esbracejar e, finalmente, a afogar-se na palavra "carrascos", mas percebendo-se a intenção, já no caso de Portas, o sacrifício da sua "reputação" pelo país é como se a rapariga que já não é virgem, vá lá, há três décadas, quisesse agora conceder a sua virgindade, no limiar dos cinquenta, a um qualquer homem que por ela se tivesse apaixonado. Falar da (boa ) reputação política de Paulo Portas faz tanto sentido como a Catarina Martins e o João Semedo serem as caras da próxima campanha publicitária do Banif. Porque há coisas, como diria Wittgenstein, sobre as quais podemos ter certezas básicas, como se fossem condição de possibilidade do nosso mundo, aquele em que vivemos, e essas certezas são, como diria Portas, ai, como é que diria Portas, ai como é, como é, já sei, "irrevogáveis"!

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