Zara Gay (o primeiro stand-up da vida de um comediante)

Em primeiro lugar, muito boa noite a todos. Pronto, desta parte do texto já não me esqueci... Há pelo menos uma pessoa que vai ficar contente com isto, que é a minha mãe, que me está sempre a dizer de não me esquecer de cumprimentar as pessoas. Em segundo lugar, quero deixar bem claro que tenho sérias dúvidas, atenção, não são dúvidas de brincar, de que isto seja bom para mim e, sobretudo, para vocês... Enfim, de que isto seja bom para alguém... O mundo não vai ficar melhor depois disto e há fortes possibilidades de ficar bem pior... (Pausa) Mas, enfim, algumas pessoas que eu considero insistiram muito, disseram que eu era mesmo bom, e que isto ia correr muito bem! Eu retorqui, disse que não tinha experiência, que o que eu gostava mesmo era de escrever os textos para outros dizerem... Que provavelmente ainda não estava preparado... E essa gente, que eu até apreciava muitíssimo até me terem convencido a meter nisto, disseram: - Ah, mas tu és bonito! Tens uma boa imagem! Vai correr bem! E eu disse: - Mas e o texto? E eles: - Deixa lá isso! E eu:- Como? E eles: - Ok, o texto também é giro, disseram-me... Fiquei muito mais seguro!... Resumindo, o que é certo é que aqui estou eu... É uma estreia aos 35 anos, bem, nada a que eu já não esteja habituado... É que eu sou casado, mas eu e a minha mulher ainda não... (Pausa) Também ainda só estamos casados há 10 anos... Ainda não nos sentimos preparados um para o outro... Andamos à procura desse Santa Graal que é o momento perfeito para um passo tão importante como esse. Não é coisa que se faça em qualquer altura, com qualquer pessoa, em qualquer lugar... Ah, mas vocês já têm três filhos!, dizem vocês sempre tão atentos... (Pausa) Também não valia a pena denegrir! Eu não vos fiz nada... É verdade que temos três filhos lindos que eu adoro, que tudo isto é muito estranho, que o Antunes aparece cada vez mais amiúde... (Pausa) Eu nestas coisas gosto de ser justo, as pessoas adoram falar mal, eu sei perfeitamente que há boatos, mas para mim a ligação entre todos estes factos ainda está por estabelecer... É assim, vivemos na era cristã e ninguém estranha! Por isso... Ou se prova que há aqui qualquer coisa, ou então parem de denegrir a imagem do senhor doutor Duarte Lima... que ele até é uma pessoa doente e ainda passa mal à conta disto tudo! Pela minha parte, eu assumo as minhas responsabilidades familiares, a minha mulher diz que eu sou incrível e até estamos a pensar em ir ao quarto filho. Até já falamos com o Antunes e ele deu-nos a maior força nisso! (Pausa) Em frente: quando disse à minha mulher que vinha aqui, ela disse: - Temos de ir às compras! (Pausa) Se acertar o euromilhões fosse tão fácil! Protestei, mas não valia a pena. Assim, quando dei conta, eu, ela... e o Antunes estávamos a entrar num centro comercial do tamanho de dez campos de futebol e com vários pisos. A minha mulher disse: - Vamos à Zara! Eu reagi, disse que queria ir a uma loja de roupa para homem. Ela sorriu, disse: - Tontinho, és tão querido!, deu a mão ao Antunes e lá fomos nós... Entrámos na loja e dirigimo-nos à Zara Man. Quando entrámos na secção de homens, o chinfrim de cores, efeitos e design era de tal forma alternativo que parecia que estava a entrar na Zara Gay. Aliás, propunha que se criasse a Zara Metro, a Zara Dread, a Zara Beto... E por aí fora. Torci o nariz e a mulher lá perguntou se eu tinha alguma ideia da roupa que eu queria trazer... Eu disse-lhe qualquer coisa entre o bispo de Leiria-Fátima e o Manuel Luís Goucha, ou seja, qualquer coisa entre o conservador e "o meu quarto é o 290. Acaba o drink, sobe que eu estou à tua espera para porcarias". É por isso que eu vim vestido de António Sala late night show, um misto entre "eu sou uma pessoa séria" mas "no fundo sou como às outras todas". Queria agradecer à minha mãe que foi quem me vestiu esta noite. A minha mulher é um espectáculo mas para estas coisas não é de confiança. Espero sinceramente que gostem, fiz um esforço para vir arranjado... Agora estão a dizer-me que o tempo acabou! Tinha um texto tão bom! Mas não faz mal, digo o texto para a próxima. Adeus e boa noite!

Comentários

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. clap clap clap

    estes aplausos tiveram iniciativa própria.

    até agora, tenho-me interrogado acerca de que tipo de colaboração prestava, neste blogue, o francisco moreira. é que nem um comentariozinho!

    se ainda andasse por aqui com aquele cartaz "APLAUSOS!"... ;)

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