É carnaval

Estou com uma traça tal nos dedos que até fico violento. Se eu fosse de Beja é que era pior, assim, só me dá para pensar em masturbação sadomasoquista. São oito da noite, portanto, seria masturbação em prime time com um share de 0% porque a masturbação é um acto autogâmico e, como tal, não se partilha com mais ninguém. Então, como é que vai a vida?, parece que vos ouço a perguntar. Vai uma merda jeitosa! Porquê?, parece que vos ouço inquirir. Se fosse possível colocar isto que sinto por palavras, diria que estou a fazer tobogã nos intestinos de uma vaca. Dubitativos? (Pausa) Que posso dizer? A não ser que depois da montanha-russa vertiginosa pela tripa abaixo, vem aquela sensação de alívio ao sermos projectados do esfíncter do bovino para um colchão fofinho de erva suculenta. E ali ficamos à espera de lixar o dia a alguém. O que é masturbação sadomasoquista?, parece que vos ouço questionar. Sinceramente, não ouviram (no caso de algum dia eu gravar esta crónica) mais nada depois da segunda frase, não foi? Devem estar a pensar que é uma coisa que aprendi nos fuzileiros. Por acaso, estão muito longe. Aprendi esta técnica quando fazia limpezas na loja Mozart, depois das reuniões do turno da noite, que costumavam acabar já de madrugada. Enfim, coisas tristes da minha vida, que lembro com alguma dor. (Pausa) Embora prazerosa. Ou como diria Jorge Jesus, introduzindo a reflexão com uma locução adverbial de tempo, o que causa sempre um certo suspense: "às vezes (Pausa), as coisas têm destas coisas".(Pausa) Bom, amanhã é domingo e as ruas das principais vilas e cidades do país vão encher-se de foliões retesados, que vão cantar o "Ai se eu te pego" na direcção de um cartaz com a cara do primeiro-ministro. Quase que apostava. O carnaval é o único momento no ano em que os Silvas e Correias do Portugal profundo agarram meninas cobertas de fio dental sem terem de desembolsar metade da gratificação. O que é extraordinário é que o senhor Silva, o senhor Correia, o senhor Pereira, que são portugueses de bigode e que, na rua, caminham sempre um passo à frente das respectivas mulheres, vão também eles querer "pegar" o primeiro-ministro. Parece que já consigo vislumbrar no corso de amanhã à tarde o senhor Pereira, de seis meses, com metade da camisa de ir a casamentos por fora, com o vértice de tecido gasto picando o púbis, a entoar "assim você me mata", ao mesmo tempo que arma as mãos em forma de leque e se refresca com aquele ar projectado pela ponta dos dedos. (Pausa) Até fico de cócoras! (Faz o gesto do leque com as mãos, no caso de adaptação do texto para stand-up) Entretanto, estou mesmo convencido que quem organizou o carnaval deste ano foi a CGTP com arranjos musicais do Arménio Carlos (soa abrasileirado e tudo). A contestação vai sair à rua em forma de borracheira, gente desnuda e refrões MPB. (Pausa) Delícia, delícia... Só mais uma coisa: se você é daqueles que acha que o carnaval já começou esta noite com aqueles grandes foliões que compõem o juri de "A voz de Portugal", então fez bem em ficar até ao fim desta crónica. Ou é de mim ou o Rui Reininho está a marimbar-se para aquilo tudo e a fazer a cena dele, aproveitando que nesta época do ano ninguém leva a mal? Ou é de mim, ou os anjos iam partindo o barro? E estavam com um melão no sítio da auréola e as asinhas derreteram. Por falar em derreter, e a Mia Rose a amuar, viram? Nossa, nossa... O Paulo Gonzo estava com gripe e a filha do Joaquim Furtado, a equilibrar-se nas ancas, parecia um carro alegórico. No final, o concorrente com Alzheimer voltou a esquecer-se da letra. Parece que está a estudar para juiz e o que lhe vale é que dá para ler as sentenças, não tem de as decorar. É cárnávau!

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