Crise vem do grego...

Boa noite a todos, muito obrigado por terem vindo. De todos os espectáculos que já fiz, o desta noite promete ser o mais espectacular. Desde logo porque não está a acontecer de noite! Depois, porque não está a acontecer! Em terceiro, e por maioria de razão, porque está condenado a não fazer rir ninguém. (Pausa) São as grades em que nos encerra a lógica clássica. (Pausa) Venho-me debatendo contra este flagelo da lógica aristotélica, contra os princípios que a sustentam, mas tem sido uma luta inglória. Porquê?, parece que vos ouço perguntar timidamente. Vá lá, não sejam assim! Na cama, são uns malucos! E a fazer perguntas sérias, parecem a Becky do Tom Sawyer! (Pausa) Não se compreende, suas galdérias! Respondendo à vossa pergunta: a minha luta tem sido inglória porque ninguém sabe o que é a lógica aristotélica! (Pausa) Nem eu! (Pausa) Nem os gregos! (Pausa) Nem o Futre! (Pausa) Nem o Futre, caramba! (Pausa) Se os gregos soubessem alguma coisa de Lógica clássica (grega) não se viam gregos para sair da crise! Se por um lado, parece lógico os gregos verem-se gregos para isto e para aquilo, por outro, a expressão só faz sentido em Portugal! (Pausa) É coisa para dar um chilique ao mais destemido dos linguistas, sobretudo, aos linguistas gregos. Isto deve ser um dos aspectos que mais nos aproxima dos gregos, mas ainda bem que nem a Troika, nem o FMI, nem as agências de rating estão ao corrente deste facto. Desconhecerem a riqueza da língua dos países que vampirizam não deixa de ser uma vantagem para os vampirizados! Além disso, só prova que a lógica, às vezes, é matreira e podia fazer de raposa nas fábulas de La Fontaine! A sorte, no meio disto tudo, é que estou com erecção no corpo todo, que nem me consigo sentar. (Pausa) Puseram aqui uma cadeira mas não valia a pena. Vou ter de dormir em pé esta noite. (Pausa) Por que razão isto é uma sorte?, parece que vos ouço indagar. Bom, isso já é do foro íntimo e não posso revelar. Apenas posso dizer que ter uma erecção, seja que erecção for, é, por princípio, uma coisa boa. Guardem este ensinamento para vocês, que é para evitarem perguntas sem lógica aristotélica numa próxima vez. (Pausa) A erecção, o quê? Valha-me o professor Bambo! Olhem, apenas posso acrescentar que já me aconteceu antes, não se preocupem. Bem, o que eu e toda a equipa que está por trás de mim, a saber, o electricista e o tipo do som... (Pausa) Que na verdade são a mesma pessoa. (Pausa) Mas dizia: o que eu e toda a minha equipa gostaríamos era de resolver questões como a existência de Deus, o postulado kantiano da imortalidade da alma ou, no âmbito de uma metafísica mais exigente, o problema da "crise". Num momento particularmente conturbado para o projecto europeu, gostaríamos de trazer para o seio da discussão humorística o futuro do velho continente. Se pudéssemos, convidávamos Heidegger para estar presente e falar da questão do tempo da "crise", Sartre, para explicar o problema da existência da "crise" e da "não-crise" e, claro, não fora a crise grega, o pai do pensamento ocidental, Aristóteles, para nos esclarecer aspectos mais éticos, mais práticos da "crise". Parece que já ouço o alemão Heidegger e o francês Sartre a exclamar em uníssono: "Crise" vem do grego "krisis" e significa uma porrada de coisas que agora não interessa. O que interessa, mesmo, é que vem do grego. Crise vem do grego! (Pausa) Se o que diriam Heidegger e Sartre me parece pacífico, mais complicado seria perceber o que diria Aristóteles. Provavelmente diria: Foda-se?!

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