Coliseu romano

De manhã, sou como o Tom Waits a cantar o Waltzing Matilda, só que em rouco! Ou seja, para tornar tudo claro já: o Pedro Abrunhosa ao lado do Tom Waits é a Anabela, já o Tom Waits, quando comparado comigo, é a Dina, ainda que mais bonito, embora não sendo fácil, porque o amor de água fresca de todos nós é muito bonito. Pela manhã, tenho aquela voz grave e acentuadamente rouca, as minhas cordas vocais parecem-se com a correia dentada de uma Fazer 600 e a minha laringe equivale a uma betoneira, que um trolha do tamanho de um smurf, que vive na minha garganta, atesta sem cessar com pazadas de areia... Alguns de vocês poderão reflectir um pouco e chegar à conclusão que tudo isto é irrelevante, uma vez que a crónica é escrita. Bom, para vocês que acabam de formular juízos temerários, tenho três palavras: gravador digital áudio. Ando a juntar dinheiro para um com a mesada que a minha mãe me dá, e conto um dia destes começar a gravar as crónicas e disponibilizá-las em versão áudio. Se tenho vergonha por ainda receber mesada da minha mãe aos 35 anos? - Não! Mais alguém tem perguntas fáceis? - Ainda bem, porque a minha mãe já chamou para tomar o pequeno-almoço. Por falar nisso, agora que já acordei mais um bocadinho, e a minha voz já se parece mais com o que ela é, gostaria de falar do ex-líder egípcio, Hosni Mubarak, que em Janeiro último foi presente a tribunal para ouvir a acusação pedir a pena de morte. Alguns de vocês perguntar-se-ão, não sem laivos de alguma alarvidade, por que razão a minha voz de bagaço pela manhã e o julgamento do ditador do Egipto, Hosni Mubarak, são assuntos que se tocam intimamente? Tocam-se assim: vozdebagaçopelamanhãjulgamentodeHosniMubarak. Agora que a relação dos dois temas está feita - se for necessário declino tudo em latim para que não reste qualquer dúvida -, gostaria de esclarecer algumas coisas: ou é de mim, ou o Hosni Mubarak já morreu e apenas falta cumprir aquele pro forma de deixar de respirar, de falar, de bater as pálpebras? Para mais, os egípcios já estão noutra, como se viu no outro dia naquele campo de futebol, entretidos a matarem-se uns aos outros por causa de um jogo do Al-Ahly contra um clube rival. No caso, o Al-Ahly até é treinado pelo técnico português Manuel José, que acumula com as funções de dinossauro Rex. Parece que já consigo ouvir a senhora Merkel - aquela que foi no outro dia imitar a Simone de Oliveira ao "A tua cara não me é estranha", vestida de verde - a dizer: eu sabia que tinha de haver portugueses metidos nisto! Ou em alemão: ich klug dasse portugiesen! O julgamento do ex líder Egípcio mais parece um funeral, tendo todas as características de uma cerimónia fúnebre: Mubarak chega ao tribunal deitado numa maca, de óculos de sol, como as pessoas habitualmente nos funerais, pese embora, em nome do rigor, tenha de dizer que não é o morto que costuma ir de ray-ban. A mulher de Mubarak chora na audiência como a viúva chora o falecido e o ambiente é pesado, sendo possível aperceber-nos de que cada um faz a sua equação pessoal do morto: até era bom homem! Também tinha coisas boas! Ninguém pode dizer que está bem... O facto da acusação pedir a pena de morte para Mubarak é a mesma coisa que num restaurante de fast food mandarmos um hambúrguer para trás porque a carne não está bem picada!

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