O pedinte

Acabo de sair de um supermercado e qual não é o meu espanto quando, à porta, encontrei um batalhão de jornalistas a entrevistar um pedinte, que se encontrava sentado no chão, encostado à parede do edifício, com uma das pernas estendidas e a outra dobrada. Estendia a mão e pedia moedas, o pedinte, para ajudar a fazer face às despesas mensais que tinha e não conseguia pagar. Por causa de leis injustas, queixava-se o pobre homem, não recebia vencimento, apesar de ter um emprego. Os jornalistas, que adoram a miséria humana, perguntaram-lhe ao certo os rendimentos que efectivamente aufere. Parece que são uns míseros dez mil€ mensais, que ficam muito aquem das suas despesas. Acabo de tomar conhecimento disto, in loco, e não podia deixar de prestar o meu apoio e carimbar a minha solidariedade, por esta via, a única que tenho, a este pobre homem, este Lázaro que é uma das vítimas do actual estado de coisas. Um dos jornalistas perguntou-lhe o que fazia na vida. Ele, algo envergonhado, mais cabisbaixo do que nunca, contando as moedas que tinha na palma de uma mão com os dedos indicador e polegar da outra, expirou baixinho, de forma quase imperceptível: 
- Sou presidente da República!

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